quarta-feira, 30 de junho de 2010

Raimunculo, Verbena e Amor Perfeito

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RAIMUNCULO AMARELO DO CAMPO - Ingratidão.
«Esta planta é a mais malfazeja  de todas as de nossos prados (...)».


RAIMUNCULO ASIATICO - Vós sois brilhante de atractivos.
«(...) Nenhuma outra planta offerece aos amadores de variedades tão interessante e tão rica apparencia».


VERBENA - Encantamento.
«A verbena servia entre os antigos para diversas especies de sortilegios e adivinhações; attribuiam-se-lhe mil propriedades, e entre outras, a de reconciliar os amigos (...)».
Segundo as tradições do norte da França, a verbena serve curar enfermidades, assim como para enfeitiçar os rebanhos e os corações das donzelas.

AMOR PERFEITO - Eu penso em vós - Pensae em mim - Existo só para ti.
«Do seu nome francez pensée (pensamento) tira esta flor a sua significação (...)».
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In Diccionario da linguagem das Flores ornado com estampas coloridas, Lisboa, Typographia Lusitana, 1868.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Chagas, Malvaísco e Bons Dias

CHAGAS AMARELAS - Não vou lá.
«(...) Affirmam que nos dias ardentes do estio, as chagas soltam faiscas electricas».

MALVAISCO - Agrado - Benevolência.
«Suas flores, hastes, folhas e raiz, tudo n'elle é benefico. Compõem-se dos seus diferentes succos xaropes, pastilhas e massas tão excellentes no gosto, como favoraveis á saude».

BONS DIAS - Garrida - Garridice - Namoradeira - Pretenciosa - Volubilidade.
«Mal a aurora  desponta nos céus
Desabrochas florzinha mimosa,
Dás ao Zephiro, que te ama, um adeus.
E ás borboletas que adejam, vaidosa
Mil beijos aceitas dos seus.
Coquettes, n'esta flor inconstante
De vossa indole tendes o emblema,
Apraz-vos o amor d'um instante,
Brilhar é vossa arte suprema,
Só amaes o prazer delirante».
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In Diccionario da linguagem das Flores ornado com estampas coloridas, Lisboa, Typographia Lusitana, 1868.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Cravos, Goivos e Hepatica

CRAVO AMARELO - Desdem - Desprezo.
«Assim como as pessoas desdenhosas são pela maior parte exigentes e pouco amaveis, assim tambem de todos os cravos o amarello é o menos bello, o menos cheiroso, e o que exige maiores cuidados».

CRAVO AMARELO RAIADO - Volte logo.
«Aguns mythologos dizem que a origem d'estes cravos foi devida a Diana, que, tendo em uma occasião de mau humor encontrado um pobre pastor que andava caçando, lhe arrancou os olhos com muita destreza; e tendo depois reparado que as pupillas eram muito bonitas, lembrou-se de convertel-as em flores, semeou-as e d'ellas provieram os cravos».


CRAVO BRANCO RAIADO - Veiu tarde.
«O cravo branco parece ter sido o ultimo que se conseguiu raiar (...) d'onde realmente se póde dizer que veiu tarde (...)».

CRAVO DA ÍNDIA - Dignidade.
«O cravo aromatico da India é originario das Molucas; os povos d'esta ilha trazem as flores, que nós chamamos cabeças de cravo, como um signal distinctivo de dignidade (...)».


CRAVO DE POETA - Fineza.
«O cravo de poeta, tão brilhante por seus bellos tufos, é em toda a parte de uma fineza delicadeza notaveis».

CRAVO DE TUNES - Antipathia - Odio - Raiva.
«(...) o roxo avelludado e o amarello de suas flores não deixam de formar um bello matiz; porém o pessimo cheiro que exhalam lhes adquire a antipathia de todos e lhes attribue o seu emblema».

CRAVO ESCARLATE - Amor vivo e puro.
«O cravo primitivo é simples, escarlate e perfumado (...)».
«Foi o bom Renato de Anjou, esse Henrique IV da Provença, quem primeiro enriqueceu os jardins com o cravo e a rosa vermelhos (...)».

CRAVO ROSA ALMISCARADO - Mensageiro discreto.
«Os cravos grandes têem muitas vezes servido para em seus olhos occultar um bilhete (...). A rainha Maria Antonietta, na sua prisão do Templo, recebeu occulto no olho de um cravo rosa almiscarado um bilhete (...)».
«Dubos fez sobre este assumpto os versos (...)».

«Quando uma infeliz rainha
Na prisão, triste e mesquinha
Da sorte affronta o rigor;
É d'um cravo a discrição
Quem da ventura um clarão
Faz raiar em seu favor».

CRAVO ROXO - Sentimento.
«A côr rôxa significa tristeza, e reunida ao cravo que significa affecto, lhe grangeia a significação de sentimento».

GOIVO DOBRADO DOS JARDINS - Beleza durável.
«Esta bella flor eleva-se pois em nossos jardins, como uma belleza viva e fresca que espalha em torno de si a saude, o primeiro dos bens, e sem a qual não ha ventura nem belleza duravel».


GOIVO DAS MURALHAS - Fiel na desgraça.
«(...) folga de crescer nas fendas dos velhos muros (...)».
«Outrora os menestreis e trovadores traziam um ramo d'esta planta, como emblema de uma affeição, que resiste ao tempo e que sobrevive á desgraça».


A propósito de uns goivos que nasceram nas ruínas de Saint Denis, escreveu Treneuil:

«Que flor é esta, que um piedoso instincto
Aqui nas azas do zephyro transporta?
Que! o templo onde tens tuas raizes,
Deixas, terno goivo, amante das ruinas,
E vens fiel os nossos reis acompanhar?
Ah! pois que do terror as leis curvaram
Do lirio infeliz a haste soberana,
De nossos jardins em luto sê rainha;
Triumpha sem rival, flor santa e pura
Fiel ao tumulo, ao throno, à desventura».

GOIVO DE MAHON - Prontidão.
«A semente d'esta flor, apenas confiada á terra, germina, e quarenta dias depois lá temos massiços ou guarnições cobertas de flores; mas como ellas são de pouca duração, para poder gosa-las por mais tempo, convem semea-las desde março até agosto (...)».

HEPATICA - Confiança.
«Quando os jardineiros vêem as lindas flores da hepatica, dizem: "A terra está amoravel, póde-se semear com confiança"».
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In Diccionario da linguagem das Flores ornado com estampas coloridas, Lisboa, Typographia Lusitana, 1868.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Primavera, Congossa e Alfazema


PRIMAVERA - Puberdade
«A puberdade é a primavera da vida. "A primavera, diz Shakespeare, que nunca viu Phebo em todo o seu esplendor, é pallida como a jovem que fenece pouco a pouco na esperança de um esposo"».
CONGOSSA - Doces lembranças
«Já ao abrigo dos combros a violeta, a margarida e a flor doirada do dente de leão têem desabrochado, quando approximando-nos da orla dos bosques, vemos a anemona e a congossa estenderem ahi um longo tapete de verdura e flores». A congossa tem folhas «verde forte, resistentes e luzidias» e flores «de um bello azul». É «consagrada a uma felicidade duradoura, a sua côr é a da amisade, e a sua flor era para J. J. Rousseau o emblema das doces lembranças. Esta planta, imagem de uma primeira affeição, prende-se fortemente ao terreno que embellece, enlaça-o todo com seus ramos flexiveis, e cobre-o de flores, que parecem o reflexo da côr dos céus.
Asim os nossos primeiros sentimentos, tão vivos, tão puros, tão ingenuos, parecem ter uma origem celeste; assignalam em nossos dias um instante de ventura, e lhes devemos as nossas mais doces lembranças».
ALFAZEMA - Desconfiança
«(...) Julgava-se outr'ora que o aspide, especie de vibora muito perigosa, se occultava habitualmente entre a alfazema, motivo pelo qual só a ella se chegavam com desconfiança».
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In Diccionario da linguagem das Flores ornado com estampas coloridas, Lisboa, Typographia Lusitana, 1868.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Virbuno, Amarilis e Tulipa


VIBURNO - Boa nova
«Esta planta é também conhecida pelos nomes de rosa de Gueldre e bola de neve».
Segundo uma lenda Suíça, uma jovem depois de morrer, não querendo deixar o campo em torno da sua casa, foi transformada pelo seu Anjo da Guarda nesta flor, segundo a vontade da própria rapariga:
«- Que! diz o anjo maravilhado, queres tu florir quando toda a natureza está morta?! Teme os ventos gelados do inverno, elles te fustigarão, e tu morrerás sem haver conhecido as caricias do zephiro!
- Seja embora, diz a joven, não viverei mais que um dia, mas n'esse dia annunciarei a primavera!».

AMARILIS - Alitivez - Fereza - Orgulho
«Os jardineiros dizem que o amarilis, de que ha uma grande variedade, são plantas altivas, porque as mais das vezes recusam flores aos seus vigilantes cuidados (...)».

TULIPA - Declaração de amor
«Sobre as margens do Bosphoro a tulipa é o emblema da inconstancia, assim como o é tambem do mais violento amor».

(...)
«Nos primeiros dias da primavera celebra-se no serralho do grão-senhor a festa das tulipas. (...)
«Foi desde 1644 ou 1647 que a tulipomania exerceu a sua influencia na Hollanda. (...) A especie mais preciosa era a que denominavam sempre augustus, e avaliavam-a a dois mil florins (...)».
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In Diccionario da linguagem das Flores ornado com estampas coloridas, Lisboa, Typographia Lusitana, 1868.